Artiz dá as boas-vindas!

O novo posicionamento do projeto Artiz reflete nossa intenção de ampliar sua relevância e alinhá-lo, com ainda mais precisão, aos compromissos que orientam a Artesol – ONG responsável por sua criação em 2016. Dizemos “nossa” porque o cooperativismo está no DNA da Artesol, que busca ecoar múltiplas vozes e valorizar construções coletivas feitas por sua equipe técnica e governança, sempre alimentadas pelo diálogo contínuo com artesãos e artesãs, equipes de campo, pesquisadores, comunicadores, curadores, lojistas e visitantes.
O modelo criado pelo projeto Artiz — inicialmente concebido como a “loja social” da Artesol — tornou-se uma referência no setor, promovendo a valorização da procedência das obras, dos territórios e das pessoas por trás delas, assim como das técnicas envolvidas. A disseminação desse modelo transformou a forma de comunicar e comercializar o artesanato, reforçando nosso compromisso em seguir atuando como agentes de mudança no setor.
O projeto Artiz é a vitrine, a face mais visível de um processo amplo e estruturado conduzido por meio de iniciativas da Artesol, como a Rede Artesanato do Brasil, que articula o ecossistema do artesanato em todo o país, a exposição-feira Arte dos Mestres, que dá visibilidade a mestres artesãos por meio de mostras de alto padrão, contribuindo para seu reconhecimento cultural e destinando 100% da receita gerada diretamente a eles; o CAAIS, plataforma digital de formação continuada para artesãos e o LAB de Inovação Artesanal, que promove colaborações entre designers e coletivos artesanais no desenvolvimento de novos produtos e na expansão de mercado para o artesanato.
Compreendemos que a verdadeira vocação do projeto Artiz é contribuir para a conscientização da importância do artesanato brasileiro, valorizando sua existência e garantindo condições para que as pessoas que o produzem possam viver de seu saber-fazer. Isso inclui o estímulo ao consumo consciente, à sustentabilidade e ao fortalecimento de práticas baseadas nos princípios do comércio justo – como igualdade de oportunidades, transparência e responsabilidade nas relações, práticas comerciais e pagamentos justos, desenvolvimento de capacidades e cuidado ambiental.
Guiadas por esses princípios em nossas relações com os artesãos, buscamos estendê-los à nossa própria equipe, com o compromisso de implementar condições justas e respeitosas de trabalho. Também pretendemos assumir o desafiador papel de observar e reconhecer as muitas complexidades do setor, fomentar as boas relações entre lojistas e artesãos, e promover o acesso à informação para que o artesanato seja reconhecido como expressão viva e inestimável do Brasil.
Por muito tempo, o artesanato brasileiro foi mantido à margem da arte, da economia e das instituições, reduzido a um imaginário de folclore e simplicidade. A Artesol conhece de perto esse cenário. Em sua primeira fase, o projeto Artiz buscou reposicionar o artesanato brasileiro de raiz cultural como “artigo de luxo”, enfatizando seus valores sociais, culturais e ambientais. Nessa missão, encontramos no JK Iguatemi o parceiro ideal para esse posicionamento, que, com a Iguatemi, tornou-se o grande patrocinador do projeto.
Por outro lado, embora essa iniciativa tenha ampliado a visibilidade da produção artesanal brasileira, reconhecemos que ainda enfrentamos desafios importantes para reverter visões arraigadas e promover mudanças estruturais no setor. As visões culturais predominantes continuam, em muitos casos, a associar elegância e qualidade a uma estética internacionalizante, minimalista e distante das expressões identitárias e sensoriais que caracterizam o nosso fazer artesanal.
Reposicionar o projeto Artiz hoje é, também, desafiar esse olhar e apresentar o artesanato brasileiro como ele é: expressão legítima, complexa, enraizada na história e, por isso, digna de preservação, mas também absolutamente contemporânea e aberta à transformação. Queremos que sua excelência e singularidade sejam reconhecidas e admiradas com a mesma reverência reservada às grandes tradições da arte e do design.
Reconhecemos e divulgamos as histórias e realidades dos artesãos por trás dos objetos exibidos pelo projeto Artiz, mas a escolha pelo artesanato deve se distanciar de um entendimento assistencialista ou paternalista; é, antes, o reconhecimento justo e necessário da contribuição dos artesãos à nossa cultura, economia e sociedade, e do valor de seu trabalho criativo, meticuloso e autêntico.
A sensibilização dos públicos, que queremos que sejam amplos e diversos, acontece por meio de curadorias consistentes: exposições temporárias acompanhadas de conteúdo editorial e colaborações com artistas e designers que ressignificam as técnicas artesanais tradicionais em chave contemporânea.
Impulsionada por pessoas comprometidas com a valorização do artesanato brasileiro, nossa nova proposta inaugura uma fase em que a lógica do consumo deixa de ser o eixo central das nossas ações. Em seu lugar, ganham destaque os vínculos afetivos, os saberes compartilhados e o compromisso com a transformação social. Nesse novo ciclo, deixamos de tratar o público apenas como consumidor e passamos a reconhecê-lo como visitante engajado e parceiro ativo em um processo coletivo de ressignificação e fortalecimento do artesanato como expressão viva da cultura brasileira.
Nova estratégia:
mostras temáticas e plataforma de conteúdo
Dizia-se até mesmo que qualquer trabalho feito por mulheres em sua casa era “não trabalho” e não possuía valor, mesmo quando voltado para o mercado. Assim, se uma mulher costurava algumas roupas, tratava-se de “trabalho doméstico” ou de “tarefas de dona de casa”, mesmo se as roupas não eram para a família, enquanto, quando um homem fazia o mesmo trabalho, se considerava como “produtivo”.
Silvia Federici, Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva
Artiz agora trabalha com curadorias especiais ao longo do ano, transformando o espaço físico no JK Iguatemi em um ambiente para acolher mostras culturais. A primeira delas é inspirada no livro Têxteis do Brasil: Rendas e bordados, publicado pela Artesol e de autoria de Helena Kussik, antropóloga, designer e colaboradora de longa data da nossa organização. É uma curadoria que dialoga com a longa história que atribuiu o trabalho têxtil às mulheres e o confinou ao espaço doméstico, tornando-o invisível e desvalorizado como arte. Trazemos a outra face desse universo, reafirmando essas práticas como linguagem legítima, veículo de expressão cultural e potente forma de resistência. Essa escolha curatorial também expressa a nossa identidade: fundada pela antropóloga Ruth Cardoso e conduzida majoritariamente por mulheres, a Artesol incorpora, em sua própria estrutura, o protagonismo feminino que deseja evidenciar.
Têxteis do Brasil reúne obras de artesãs, artesãos e coletivos, principalmente integrantes da Rede Artesol, em diálogo com peças de marcas parceiras e artistas convidadas. As técnicas reunidas nesta seleção – muitas das quais também estão documentadas no livro – aliam tradição e invenção, saber compartilhado e identidade pessoal de quem as cria. A noção do têxtil aqui é expandida: ultrapassa o caráter plano do tecido e do fio para ganhar tridimensionalidade em peças que evocam tramas, texturas e gestos do tear, da costura, da renda e do bordado. Ao exibir criações de diversas regiões do país em diálogo com o trabalho de artistas e designers, damos visibilidade a essas produções, fortalecemos os membros da nossa Rede e colocamos as práticas artesanais à luz dos debates contemporâneos.
Como plataforma de conteúdo, o novo site destaca o perfil dos participantes de cada curadoria e aprofunda seus temas, desta vez com textos assinados por Helena Kussik; Antonio Castro, estilista alagoano e fundador da marca Foz, que integra saberes artesanais nordestinos à moda contemporânea; e Rener Oliveira, jornalista potiguar e editor-chefe do portal Nordestesse, reconhecido por seu olhar crítico sobre moda, comportamento e consumo.
Acreditamos que conhecer é o primeiro passo para transformar: rever escolhas de consumo, reconhecer as pessoas e os contextos por trás do que se adquire, reconsiderar o valor de um objeto.
Faça essa jornada com a gente.